Nunca fui bom com despedidas. Último dia de férias, abraço nos parentes que demoraria a reencontrar, beijo no rosto, meio sem jeito, em alguém especial, mas que não voltaria a ver. Contemplar, tristonho, algum local que deixaria de pertencer ao meu cotidiano. Passagens necessárias para a vida seguir adiante e uma única certeza presa na retina e na memória: tudo vira passado e exílio [de si, dos outros, de tudo].
Às vezes, cogito, num arroubo de radicalismo semântico, suprimir todos os signos que representem um sinal de despedida. Dizer adeus, ciao ou o simpático au revoir parece-me mais uma espécie de auto-engano. Tenho esperança de voltar atrás, desistir e dizer que tudo era brincadeira. Talvez assim criasse um universo onde não há intervalos para a saudade ou aquela sensação estranha de ausência. A liturgia envolta nas despedidas carrega sempre uma dor que aniquila, mas que deve acompanhar [não sei bem o porquê] todos os encontros.
Entretanto, a despedida não é simplesmente uma parte necessária de nossa sobrevivência [social e psíquica]. Percebo, como todos acabam notando, que deixar a vida seguir seu curso é também acreditar no amadurecimento, na vontade de crescer, romper paradigmas, ampliar horizontes. Com o passar dos anos, as despedidas tornam-se mais leves, menos ritualísticas. O abraço apertado cede lugar ao tapinha no ombro e o desejo forte de retornar em breve.
Um dia, quem sabe, eu aprenda a me despedir. Sendo bastante otimista, diria que poderei enxergar, tão somente, o lado bom da despedida. Ainda claudico nessa árdua caminhada rumo a tão sonhada imagem de adeus: dizer “até logo” seria contemplar um futuro melhor, no qual todas as distâncias servissem de ponte para ser alguém mais feliz [se até Sísifo precisa da felicidade, nós, seres pós-pós modernosos também necessitamos].
Na próxima vez em que for me despedir [seja do vigilante da rua a um antigo amor], tentarei ser forte e suficientemente bom para silenciar e, num tom de máximo respeito, acenar para a certeza de que despedidas não existem, pois a vida, principal motivo dos encontros, sempre permanece.
Texto de Matheus Pazos do blog Crônicas Exílicas