Tudo hoje é inteligente. Inteligente porque as pessoas estão exigentes. Precisa ser rápido, leve, fino e por isso tudo custar caro. Me confesse, para um amor ser inteligente, desta lista toda, somente ser leve realmente compensaria. Mas estão (e estamos) cada vez mais exigentes. A inteligência está à venda nas prateleiras e se tornou como alguns amores, você sabe que é artificial, mas pode até funcionar melhor do que se fosse de verdade. No coração nunca dá para se saber ao certo quem ou o que alguém leva, mas no bolso e na bolsa hoje em dia dá. O smartphone precisa ser de última geração. Ninguém tem muito tempo para ouvir um amigo que liga precisando desabafar, responder uma mensagem de afeto, dar ele próprio o banho no animal de estimação (ou para ter um), passar mais horas com a família, dar a segunda chance a um amor ou fazer o que realmente gosta. Mas, ainda sem, a maioria tem mais de um celular, alguns têm dois, três.
E é assim: se você não sabe onde está fica louco, se vai viajar ou passear e não tem como levar fica torcendo pelo reencontro, não consegue passar um segundo sem olhar, quando estão juntos o mundo pode explodir lá fora que nada vai desviar sua atenção, por vezes, você atende até sem ter te chamado, recarrega a energia e cuida todos os dias para que dure muito, se possível, para sempre. E, não, é claro que eu não estou falando do amor da sua vida, eu estou falando do seu celular. Tem mais gente na fila de compra da nova geração do iPhone do que a pessoa mais bacana do mundo jamais teria na própria festa de aniversário. Pode ser que alguém te deixe por pequenos defeitos seus, poucos vão querer pagar o seu preço, mas se você fosse um moderno celular aceitariam pagar mil vezes o seu real valor. Amar tá mais ultrapassado do que orelhão?! Todo mundo fica bravo quando cai a chamada, mas, se tratando de relações, a decepção anda sendo o bônus aos poucos que buscam uma ligação de longa duração. Em um tempo no qual uma conexão wi-fi sem senha é mais procurada e desejada do que um amor, do que você, talvez. Trocamos as paixões por celulares? Não que eu seja avesso à tecnologia, mas o smartphonehoje é como aquela paixão adolescente, nós dá a ilusão de estarmos conectados e, no fim, de forma positiva, de um jeito ou de outro nos livra da solidão ou da sensação da solidão. Neste mundo em que um novo aparelho ou atualização do sistema podem ser a coisa mais aguardada, agradeça se você tiver quem conta as horas pelo seu abraço.
Por isso tudo, não ache idiota o que eu te proponho: me deixa ser o seu smartphone. Prometo te acordar com o melhor despertador do mundo, te distrair para passar o tempo enquanto você está em alguma fila ou esperando alguém chegar, estar ao seu lado e registrar as melhores lembranças (e ainda virei com um filtro para tornar mais belas aquelas lembranças ruins), vou ser rápido no que precisa e bem demorado no que deve ser assim, vai poder me exibir para os amigos quando personalizar meu visual e virei com a exclusiva função "desaparecer por tempo programado", para quando se cansar de mim. Quero ser seu smartphone, é o meu desejo bobo por um amor sério. Aprenda de uma vez, até o mais moderno celular processa em sistema binário. E o amor também é binário ainda que não seja exato: ou você ama ou você não ama. Então, sei que amor não tem confirmação de recebimento, mas estou enviando o meu. Não fique mais procurando o melhor modelo, seja inteligente, me ame!
Rebeca Medeiros, 18 anos. Baiana, apaixonada por música, moda, filmes, fotografias, viagens e séries ♥ 
